Transgênicos podem ser a solução para insulina no mundo
Um dos assuntos mais polêmicos que cercam a agricultura nas últimas décadas, é o debate acerca da utilização de transgênicos na agricultura. Enquanto muitos produtores defendem a importância das substâncias para uma produção maior em uma área menor, muitos críticos afirmam que os transgênicos provocam doenças aos seres humanos, além de prejudicar a alimentação.
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Na edição nº 104 da Revista SindiRural (maio/junho), o Sindicato Rural de Cascavel já discutiu outro assunto importante: os defensivos agrícolas. Nas matérias, foi mostrado que os defensivos não são a principal forma de intoxicação no campo, além de não haver uma única pesquisa que comprove a causa e efeito da manifestação do câncer devido a exposição a eles.
“A transgenia também é um dos assuntos protagonistas em discussões e muitas pessoas erroneamente defendem inverdades sobre alimentos transgênicos. Sem eles, o número de pessoas passando fome, no mundo, seria exponencialmente maior”, afirma o Presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Orso.
Mas o que é a transgenia e os transgênicos?
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, a transgenia é uma evolução do melhoramento genético convencional, permitindo a transferência de características agronômicas desejáveis entre diferentes espécies. Com essa tecnologia, cientistas podem isolar genes de microrganismos e transferi-los para plantas, visando torná-las resistentes a doenças, mais nutritivas, entre outras inúmeras aplicações.
Segundo definição da Embrapa, transgênico pode ser usado como sinônimo para a expressão “Organismo Geneticamente Modificado” (OGM).Essa alteração no seu DNA permite que mostre uma característica que não tinha antes. Na natureza, sempre ocorreram (e ainda ocorrem) alterações ou mutações naturais.
Em 2024, se completam três décadas do desenvolvimento do primeiro produto alimentar geneticamente modificado no mundo – um tomate com maior durabilidade criado na Califórnia, Estados Unidos. Em 2014, a cada 100 hectares plantados com soja no Planeta, 80 já eram de sementes com genes alterados. No caso do milho, eram 30 para cada 100.
Atualmente, os organismos geneticamente modificados (OGMs) desempenham um papel crucial no atendimento ao crescente aumento da demanda por produtividade por hectare, a área cultivada pelo produtor. Com a escassez de novas terras para cultivo, torna-se essencial aumentar a produção em cada hectare existente. Além de elevar a produtividade, a biotecnologia oferece benefícios adicionais, como o desenvolvimento de plantas mais nutritivas e com composição mais saudável.
Diabetes: um problema cada vez maior
De acordo com o estudo Transgenic Expression and Identification of Recombinant Human Proinsulin in Peanut publicado pelo Instituto de Tecnologia do Paraná – Tecpar em sua revista acadêmica Brazilian Archives of Biology and Technology, nos últimos anos, a incidência global de diabetes aumentou dramaticamente devido a variações genéticas, dieta inadequada e estilo de vida.
Estima-se que o número de pacientes diabéticos alcance 10% da população mundial, disparando para 592 milhões até 2035, com aproximadamente 5,1 milhões de mortes anualmente. Juntamente com o aumento exponencial no número de pacientes, a demanda por insulina está crescendo rapidamente (mais de 16 toneladas por ano), com as tecnologias atuais de fabricação de insulina e a capacidade de produção incapazes de atender à crescente demanda do mercado por alta produção no futuro.
A fabricação em larga escala de insulina terapêutica para humanos se beneficiou enormemente da engenharia genética. De 2004 a 2013, ainda segundo o estudo, os biofármacos foram majoritariamente derivados da bactéria Escherichia coli (24%), leveduras (13%), células de mamíferos (56%), animais transgênicos e sistemas de expressão em plantas (3%) e células de insetos (4%).
“Os sistemas de expressão em plantas transgênicas têm atraído atenção devido a vantagens como alta capacidade de produção, segurança, investimento barato e escalabilidade rápida e fácil. Sementes e folhas transgênicas apresentam estabilidade a longo prazo e podem ser usadas para armazenar insulina até que seja necessária”, afirma a publicação.
Um teste feito em sementes de Arabidopsis thaliana, uma planta nativa da Europa e Ásia, mostrou que a insulina acumulada nas sementes transgênicas pode reduzir significativamente os níveis de glicose de maneira similar à insulina disponível comercialmente. Além do mais, as folhas de tabaco transformadas foram capazes de reduzir os níveis de glicose no sangue e na urina quando administradas oralmente a camundongos diabéticos não obesos
Animais transgênicos 🐮
Em março deste ano, os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, conseguiram obter insulina humana a partir do leite de uma vaca transgênica do sul do Brasil. Em um artigo publicado na revista Biotechnology Journal, os cientistas colocaram um segmento de DNA humano no núcleo celular de dez embriões do animal. Depois, os embriões foram inseridos no útero de vacas normais. Como resultado, um filhote transgênico nasceu.
Além de conter informações da pró-insulina, ou seja, proteína precursora da forma ativa da insulina, o segmento de DNA humano foi “programado” por engenharia genética para se expressar apenas nos tecidos mamários do animal.
“Significa que não havia insulina humana circulando no sangue da vaca ou em outros tecidos. A mãe natureza desenhou a glândula mamária como uma fábrica para produzir proteína de forma realmente eficiente. Nós podemos tirar vantagem desse sistema e produzir uma proteína capaz de ajudar centenas de milhões de pessoas pelo mundo”, explica o pesquisador da Universidade de Illinois Matt Wheeler.
O feito inédito ainda precisa passar por mais testes e, futuramente, uma série de regulamentações para poder ser comercializado com segurança. Caso seja bem sucedido, o experimento auxiliará na produção de insulina, ajudando a solucionar problemas de pessoas que vivem com diabetes, como a escassez do hormônio para pacientes e seus altos custos.
“A ciência por trás da transgenia é espetacular, e é decepcionante ver que no Brasil ela foi utilizada como objeto de ideologia política. É um campo de estudo sério e necessário para o ser humano. Defendemos sempre o avanço responsável e seguro da ciência”, afirma o Presidente Paulo Orso.
O Presidente do Sindicato Rural de Cascavel ainda enfatiza que a entidade sempre buscou desmistificar as mentiras que envolvem os transgênicos, participando e promovendo debates acerca do assunto.
“Nossa diretoria é atuante e preocupada! Sabemos que, como sindicato, temos uma função representativa de sempre defender os direitos da família do campo. Quando um assunto tão importante é envolto de mentiras e vilanizado, o produtor rural se torna o errado”, finaliza o presidente do sindicato.